Coordenador ou diretor?

Quando em 2009 projetei os princípios do NECITRA, antes dos procedimentos para o seu funcionamento, a definição de dois conceitos cadeira-diretor-de-cinema-antoniazzi-14512-MLB2710787035_052012-Oforam muito importantes: a opção pela formação de um núcleo, ao invés de grupo, e com isso a opção por um coordenador, ao invés de um diretor.

Nestes seis anos, muitas vezes se referiram a mim como diretor do NECITRA, e muitos vezes fui questionado, inclusive pelos integrantes do núcleo, da diferença entre coordenador e diretor, sendo que para alguns são sinônimos. Em síntese, sou coordenador do NECITRA e diretor de alguns dos trabalhos, não de todos.

Pretendo aqui aprofundar alguns pontos que justificam essas opções que muito mais que algo gratuito ou somente estético, é uma afirmativa coerente com os princípios deste grupo, que é um núcleo. Parto da crença de que os conceitos definem uma dada realidade, sendo indispensável compreendê-los quando se quer entender um determinado contexto, e para construir relações consistentes e objetivas num trabalho interno de grupo. Mais um vez, reitero se tratar de um ponto de vista e de escolhas feitas (e seguidas desde então) dentro de um determinado contexto, dentro de um processo que se iniciou ainda em 2008, culminando com a criação do NECITRA em 2009.

Essa diferença entre núcleo e grupo vou desdobrar em outro momento. Mas é relevante afirmar que o NECITRA é um espaço com artistas trabalhando de forma simultânea em projetos individuais e coletivos, e com estruturas diferentes desde sua concepção, pessoas e técnicas envolvidas, até os procedimentos de trabalho assumidos. Ou seja, as obras resultantes destes processos são tão parecidas quanto pode ser o trabalho desenvolvido por um grupo de dança e um grupo de teatro, ou as semelhanças entre um espetáculo circense de rua e uma videodança.

No campo conceitual que consolidou a base da organização do NECITRA, o diretor é definido como alguém que dirige um trabalho, qualquer que seja: um espetáculo, um vídeo… ele é o principal responsável pela formato final da obra. Orienta para onde vai o grupo de trabalho: de onde partimos e para onde vamos. Um diretor concebe, para iniciar, e direciona, para finalizar. Com o olhar no horizonte, define o fim, e a partir disso o começo, as ferramentas e procedimentos de trabalho. Ou parte de uma concepção prévia, de um texto, de uma referência… O diretor está mais centrado na concepção, objetivos e metas e a partir de então define os procedimentos de trabalho- que podem ser os mesmos sempre, ou variar, dependendo da maneira que este diretor trabalha.

O coordenador está preocupado com os procedimentos para o funcionamento geral do grupo. Para que sejam criados e gerenciados os princípios que regem o funcionamento do coletivo e para acompanhar o seu desenvolvimento. Não se trata da coordenação dos processos artístico dos integrantes e sim da gestão geral do coletivo: dias de encontro, reuniões, apresentações, critérios de participação, entre outros. Mais do que apontar a direção, ele está ocupado com o andamento. Ou seja: vá para onde você deseja, mas evite ficar parado. Assim, um coordenador não define os objetivos dos trabalhos, mas objetiva que todos definam seus objetivos. O coordenador não participa, se não for convidado, da concepção dos trabalhos, mas concebe que os trabalho artístico precisam ser desejados, produzidos da vontade, que levam a estudos e experimentos, e que precisam de uma concepção, bem como métodos de trabalho e avaliação. Um coordenador tem uma função de mediação. Um coordenador tem também uma função pedagógica.

Novamente, estas são as escolhas conceituais que fiz no momento da criação do NECITRA, e que sigo na realização dos meus projetos. Todavia, os integrantes tem autonomia para optar por outros conceitos ao definir as funções assumidas nos projetos criados por si, para si e seus pares. Contudo, como coordenador do núcleo, no sentido de mediar as ações, proponho esses conceitos como consenso para a criação e organização de novos projetos, de modo a balizar as trocas de informações.

Para reforçar essa visão trago os significados constantes em dicionários:

Coordenador: “Pessoa que organiza e orienta um projeto ou atividade de grupo”*. O coordenador organiza os processos coletivos para o bom andamento do grupo. Os objetivos são definidos coletivamente, a direção é definida pelo pleno, o coordenador media as ações para que se alcancem esses objetivos.

Diretor: “Que dirige, regula ou determina”**. O diretor define os objetivos, define a direção e regula a ação de todos para que esses objetivos sejam alcançados. O diretor, por óbvio, é diretivo, o coordenador, neste contexto abordado, é democrático, colaborativo, estimula a cooperação.

Sendo mais analítico, e correndo o risco de ser superficial demais, aponto diferenças chave entre coordenador e diretor, na ordem citada: organiza X dirige – media X regula – orienta X determina.

Para ilustrar melhor, cito como exemplo o projeto Desdobramentos. Ele precisa de um coordenador, que organiza toda a produção do evento, funções necessárias para a sua realização, cuidados técnicos e com a divulgação, entre outros. Que cuida para que o projeto tenha continuidade, que estimula a adesão ao projeto, que projeta uma agenda anual. E por ter um resultado cênico, uma obra, ele precisa de uma direção. O Desdobramento tem uma direção geral do espetáculo, que não interfere nas cenas em si, mas que define a concepção do espetáculo (de cada edição) e dirige os artistas para que se adaptem naquela concepção, sem interferir no interior das obras individuais. Caso seja necessário modificar a obra para que seja apresentada naquela edição, o que será decidido pelo diretor geral, caberá ao diretor da obra decidir se essa alteração é possível e desejável, ou aguardar a próxima edição onde a obra possa ser contemplada. Eu assumo as duas funções no Desdobramentos, mas defendo que em projetos maiores futuros essas funções possam ser dividas para não sobrecarregar nenhum ponto, e com isso garantir uma bom desenvolvimento dos projetos.

Ainda, é importante salientar que essas definições não valem para todos os projetos. Caso se trate, por exemplo, da criação de uma coreografia, não creio que seja necessário um coordenador, mas apenas um diretor – que vai se utilizar de métodos mais diretivos ou mais colaborativos.

Portanto, o coordenador está mais centrado na organização e mediação, na manutenção da coesão no andamento das atividades do grupo. O diretor dirige uma obra, com concepção e objetivos específicos. Se o NECITRA fosse um grupo com um objetivo específico ou um caminho único a ser trilhado, focado numa determinada linguagem cênica e centrado num método de trabalho, se fosse um grupo de teatro, de circo ou uma companhia de dança no modo mais tradicional, digamos assim, ele teria um diretor e um resultado estético mais ou menos identificável. Não é o caso do NECITRA, e por isso ele é um núcleo, conceito pensado para dar conta deste contexto onde variam os objetivos das obras/projetos, suas opções estéticas, metas e modos. É um coletivo de artistas associados com intuito de fomentar esse espaço potente para a criação de suas obras, de forma colaborativa.

Podem afirmar, se assim desejarem, que um diretor tem as mesmas posturas que aqui defini como as de um coordenador. E o contrário. Outros farão outras escolhas. As conceituações tomam as formas e conteúdos definidos em cada contexto. E são importantes para o aprofundamento das ações e das relações. Mas é importante atentar para a origem destas palavras/conceitos, evitando desnecessárias relativizações, totalitarismos ou mergulhos niilista. Assim, rever os conceitos como partes isoladas, ou a partir de referências externas ao contexto em questão, descontextualizadas portanto, não é procedente, fragiliza o processo e dá inicio a uma marcha em círculos. Para além de boas ou más, as concepções são escolhas, e elas devem ser feitas e compreendidas em toda a sua extensão e complexidade, o que demanda tempo, paciência e humildade, para poder assim conformar um trabalho dinâmico e potente. E mesmo para que, após as devidas apropriações e usos (o que, reforço, demanda tempo, provavelmente anos) possam mesmo ser ajustadas, repensadas e alteradas.

O NECITRA, enquanto núcleo artístico, é um espaço com muitas entradas e diversas saídas, com caminhos construídos e refeitos a todo o momento, através do método escolhido por cada um, partindo de suas concepções, objetivos e metas. O NECITRA tem um coordenador geral, mas terá tantos diretores (de obras) e coordenadores (de projetos) quanto forem os desejos, vontades e capacidade de organização e engajamento de seus integrantes.

 

*http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/coordenador

**http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=diretor

Desdobramentos – 8ª edição

Confira os trabalhos que serão apresentados nessa edição!

1- “Caçar e Comer”, de Iassanã Martins

2 – “Entre Nós II”, de Carol Mendes e Ramon Ortiz

3 – “Dias de chuva”, de Karine Rico

4 – “Rueda de Casino”, de Bruno Menezes

5 –  “Danaus Plexipplus”, de Lizandra Ayello

6 – “Pequeno estudo sobre o amor e a morte”, de Patricia Nardelli

7 – Jogo de Improviso

8 – “Processo dos Estudos de Corpo de Bueiro”, de Samira Abdalah

9 – “Fragmento Gestos e Restos”, de Diego Esteves

10 – “Tudo que vai, volta – remoto”, de Fernanda Boff

11 – Coreografia Jeroquis, de Coletivo Jeroquis

Final de Semana Festivo – atividades gratuitas no CANTO 400

Todo último final de semana do mês tem atividades gratuitas no CANTO 400, sala 400 da Usina do Gasômetro!

Dia 26/06: Mostra de Processos, às 20h

“Pequeno estudo sobre o amor e a morte”, de Patricia Nardelli
“A África em Mim (Solo)”, de Rômulo Ferreira
“Dança Vírus”, de Bruno Menezes
“So outro silêncio. O senhor sabe o que o silêncio é? E a gente muito, demais”, de Nina Eick
“Danaus Plexipplus”, de Lizandra Ayello

Dia 27/06: JAM com Música ao Vivo, às 20h

Organização: Alessandro Rivellino, Juli Benjamim, André Olmos, NECITRA
Músicos: Rodrigo Rodrigues e o João Pedro Cé

Dia 28/06: “Jogos de Transportar”, de Diego Esteves e Fernanda Boff
Encontro Aberto de Circo
Às 16h

Final de semana festivo

Construindo fazeres

Gostoso poder estar rodeada de pessoas queridas que queiram pensar sobre as coisas que andamos produzindo. Na última reunião que fizemos, além do ar caseiro pairando na atmosfera graças à excelente anfitriã Ana Carolina, discutimos um ponto que me é querido, ao falarmos de criação artística, que é justamente como fazemos o registro dos processos criativos. E entre textos, livros, comentários pautados pelas experiências latentes dos corpos que ali estavam fomos tecendo ideias e fundamentos que determinam as nossas escolhas éticas e políticas como artistas. Ao mesmo tempo em que a discussão pairava no universo das ideias sempre estávamos retomando ao nosso próprio umbigo, a nossas experiências e muitas vezes na falta (também) de registro dentro do Núcleo. Um fim de tarde que nos convida a pensar no registro como algo inerente a prática artística, como uma proposta que potencializa o fazer, como documento histórico, material de reflexão e que deve ser construído pelas mais diversas formas.  Obrigada aos presentes por este momento tão relevante e maduro. E para vocês que acompanham este meu breve relato espero em breve poder compartilhar essas formas repletas de textura que emergirão dos corpos criativos que habitam o Necitra.

reunião

 

 

Os movimentos e as emoções

Os movimentos e as emoções

Mapa das emoções relaciona áreas do corpo com cada emoção

Pesquisadores finlandeses criaram o primeiro mapa que aponta em que lugar do corpo as emoções humanas se manifestam.

Cada emoção parece despertar reações em diferentes áreas do corpo, independentemente do fato de as pessoas terem culturas diferentes.

“As emoções não ajustam apenas a nossa saúde mental, mas também nossos estados corporais. Desta forma, nos preparam para reagir rapidamente frente aos perigos, mas também diante de qualquer oportunidade que o ambiente nos ofereça, como uma interação social prazerosa”, disse Lauri Nummenmaa, da Universidade de Aalto.

Colorindo as emoções

Para o estudo, os cientistas realizaram cinco experimentos com 701 pessoas.

Os voluntários deveriam localizar em que lugar sentiam o efeito de uma série de emoções básicas como raiva, medo, nojo, felicidade, tristeza ou surpresa, e outras mais complexas como ansiedade, amor, depressão, desprezo, orgulho, vergonha e inveja.

Os participantes tinham que colorir em uma figura humana as zonas que se ativavam mais ou menos enquanto ouviam as palavras que designam cada uma destas emoções.

O vermelho era usado para marcar as áreas de maior atividade e o azul, as com menos sensações.

Os cientistas então observaram uma grande coincidência, acima de 70%, das áreas coloridas.

Para garantir que estes mapas não dependiam da cultura ou idioma dos voluntários, os cientistas repetiram os exercícios em três grupos com nacionalidade diferentes: finlandeses, suecos e taiwaneses.

Mesmo assim as coincidências foram observadas, levando à conclusão de que as respostas físicas às emoções podem ser universais.

Amor e alegria

Segundo o mapa das emoções, as duas emoções que causam uma reação corporal mais intensa e em todo o corpo são o amor e a alegria.

Também é possível ver que, no geral, todas as emoções básicas ativam sensações na parte superior do corpo, onde estão os órgãos vitais e, principalmente, na cabeça.

“Observar a topografia das sensações corporais disparadas pelas emoções permite criar uma ferramenta única para a investigação das emoções e pode até oferecer indicadores biológicos de transtornos emocionais,” afirmaram os cientistas em seu estudo.

Juggler Patrik Elmnert

20 horas da quinta-feira, pausa para o lanche.

Fiz da minha sala uma sala de ensaio, agora oficialmente, após reestruturar todo o espaço. Do lado de cá, junto ao quarto, fica o escritório, com documentos, livros e este computador. Aqui, após vir da cozinha, acabei de fazer um lanche enquanto assistia ao vídeo deste cara: Patrik Elmert. Ele esteve na última Convenção Brasileira de Circo, a qual não estive presente. Já havia assistido alguns vídeos onde ele atua com seu parceiro, também totalmente fora do comum, Wes Peden.

Neste vídeo em específico ele apresenta um ato, uma cena, com clavas e aros. São oito minutos de truque com desenvoltura, ritmo, limpeza de movimentos e NENHUM erro. Além disso, tem uma bem pensada estrutura que suporta os aparelhos malabarísticos e que, acionadas por movimentos mecanicamente simples, inserem os aparelhos no jogo, ao encontro do malabarista.

Limpo, preciso, consistente. Mostra muito, sem mostrar demais. Um contra ponto, para tornar mais claro o que estou apontando, é uma apresentação do Wes, que em algum momento passa a ser cansativa, não se sustenta tão bem, ao meu ver, como o trabalho do Patrik. Provavelmente a própria estrutura simples que sustenta os aparelhos e que introduz o início de cada jogo, bem como as pausas e movimentos de equilíbrios, além da luz e palco, como poderão perceber, fez a diferença entre um trabalho e outro já que, tecnicamente, os dois são referência para qualquer malabarista.

Indo um pouco mais para a qualidade dos movimentos, para mim há uma grande diferença, ao menos nesses dos vídeos: Patrik parece receber e aceitar os objetos, jogando com eles de um forma mais harmoniosa, mudando a sua trajetória, mas no momento certo, como que sentindo o peso, o tempo de cada movimento: como que também sendo mudado por eles. Já Wes me dá a impressão de ser o sujeito sobre o objeto, aquele que domina, que controla, que bruscamente muda a estrutura, o tempo, o ritmo, projetando na cena, nos movimentos, talvez seu ritmo interno, seu querer, controlando o jogo. São duas formas de jogo, duas formas de controle, uma me parece ser mais precisa, no tom certo de cada momento, a outra me parece exagerada, forçada, quase tensa, ou tensionada.

Bola de Contato

Bom… eu, como malabarista, sou um ótimo acrobata! Me meto no máximo à fazer o tradicional “3 bolinhas”… e só! Mas isso não quer dizer que eu não goste de malabares. Pelo contrário! Sou um grande admirador desses artistas! Enfim, hoje vim aqui no blog invadir a área do Diego Esteves e do Rafael Gomes, nossos malabaristas! Espero que eles não se importem com isso! Hehehe!

É que me foi mostrado um vídeo por um amigo e, ao terminar de olhar pensei: isso precisa ser compartilhado lá no blog do grupo! Fiquei fascinado com a habilidade do artista. A bola de contato parece ter vida própria às vezes. Como no número do “Coisarada”, parece ser , em alguns momentos, uma simples bolinha de sabão, flutuando, sozinha, ali no parque!

Além disso, encantou-me ver a sensibilidade do artista ao interagir com o público, mesmo quando não era algo programado, o que é bem mais difícil, né? rsrs

Espero que gostem do vídeo tanto quanto eu!

Grande abraço!

E uma ótima semana para todos!