“Coisarada” no Teatro de Câmara, Porto Alegre

foto: Viviane Bassols

Acabou a curta temporada do espetáculo ‘COISARADA’  no Projeto Noites do Circo, no  Teatro de Câmara. Acabou o terceiro dos encontros com um público que encheu de prazer o nosso apresentar.

Tenho-me cansada. De olhos baixos, sigo para o camarim. Ainda sozinha, muita gente sobre o palco abraça, elogia, mostra sorrisos. Sento-me na cadeira branca e fina como minhas pernas tortas. Findou o dia, os ensaios apertados de agendas espremidas, os refletores enfileirados sobre nossos olhos vibrantes. Findou como suspiro de recém-nascido quando, enfim, resolve adormecer, pela manhã, nos braços de pais cansados pela noite em claro. E lá de dentro agradeço ao universo inteiro por esses encontros – pelo convite do Diego há dois anos para integrar o elenco e a ideia; pelo se aproximar de pessoas queridas; pelo meu resistir em trabalhar em grupo gostando tanto da solidão, mas ainda assim seguindo; pelo aproximar de mais pessoas; por ter tempo para olhar os olhos do público, agora a pouco, cada rosto pousado sobre o teatro em risos. Agradeço em silêncio, coração ainda vibrante enquanto abro lentamente os olhos.

Pela fresta da porta posso ver os abraços que ainda duram sobre o palco. Poucos conheço de Porto Alegre que vieram assistir além dos parceiros de palco e técnica: minha mãe, meu irmão, a mãe da Fê, amigas em comum (duas ou quatro), um senhor da Feirinha Ecológica do Brique que colore minhas manhãs de sábados e… findou-se a lista. Tantos sorrisos em rostos desconhecidos. Tantos abraços de corpos incógnitos. E penso quão sortuda sou neste meu embaralhar de lembranças, de um poder conhecer e trocar por olhares e graça, só.

Certa vez descrevi algo sobre esse meu andar, sobre esses sorrisos compartilhados que povoam minha memória reunindo pessoas de diferentes cidades, Estados, países em um mesmo ponto de encontro dentro de mim. Porque palhaçar não é sorrir junto? Nem do outro, nem só de mim, mas com o outro, de nossas mazelas, do patético que se externaliza em mim e que sinto ecoar dentro de cada um. Agora, deste ‘Canto’ que estou posso ouvir em lembranças as gargalhadas unidas em um só coro, dando sentido ao meu caminhar.

Sorrimos juntos nas três noites, e quão bom foi!  Jogando com o presente, ouvi ao final do terceiro dia comentários como “agora estou pronta para a semana, renovada” ou uma menina que seriamente me disse, ao final subindo no palco: “você é tão atrapalhada, né?! Erra sempre. Mas  quando você erra… (depois de um pensar)… você acerta também, né?!”. Devia ter sete anos a pequena, e constatava, após me abraçar, tal beleza revelada em mente infantil e doce de inocência.

Agradeço aqui a todo o elenco – ao Diego, por insistir; ao Psico, por estar junto; à Fezinha, por permitir que minha atrapalhação ganhasse contraste com sua beleza. À Juliana no som e ao Fernando na luz, dispostos e respirando com a gente, cena após cena. Ao Expinho, companheiro de anos, a percorrer o escuro em busca da melhor imagem. Ao pessoal que se dispôs a fotografar, enchendo-nos de imagens congeladas de momentos únicos. Ao Prego e todo o pessoal do Teatro de Câmara Túlio Piva e à comissão que aprovou o ‘Coisarada’ no Projeto (mesmo sendo única proposta apresentada de circo, foi-me dito: “isso não quer dizer que serão aprovados!”). Obrigado! E, claro, um agradecimento mais do que especial a todo o público que fez-se presente a jogar com a gente! Obrigado, obrigado, obrigado!

Levanto minha bunda magra da cadeira branca e vou tirar a maquiagem. Sigamos em frente, que o espetáculo não pode parar!

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