Parecia um ensaio normal. Uma passagem geral de Coisarada em pleno Mezanino do Gasômetro.
Eis que surgem quase 30 jovens vindos de Limeira, São Paulo, a participar da primeira edição do Festival de Teatro Estudantil realizada na nossa cidade. E param. E passam a apreciar, sentados em frente à cena.
Que feliz coincidência nos encontrarmos por aqui! Aos mais novos amigos, agradecemos pela presença e por abrilhantar nosso ensaio rotineiro!
Arte Rodando por Aí é o principal projeto do NECITRA. Seu objetivo é promover uma descentralização artística a partir das oficinas e espetáculos dos integrantes do núcleo. Para tanto, contamos com a nossa Kombi, a Dona Sofia, e a Canto – Cultura e Arte, a empresa que dá todo o suporte para o núcleo.
A ideia é rodar por todos os cantos. Tem um espaço aí?! 😉
Poderia falar do luxo. Da produção impecável, parceira e vibrante. Poderia falar dos encontros, dos brilhos nos olhos em praças públicas, interior de escolas de Goiás com suas crianças faceiras como em todo lugar.
Eu poderia falar do convite. De pessoas doces que assistiram o meu DVD caseiro junto a outras centenas de cenas gaúchas e que apostaram no meu trabalho, sem nem me conhecer ao certo. Falar dos vôos, idas e vindas, ou das comidas deliciosas. Ou do motorista da van com suas histórias (por vezes tristes, mas nem por isso com menos sorrisos). Ou do brinde pela excelência do Festival (e o foi!) inundando de água salgada os olhos do principal responsável pelo evento, que, contente, entregava rosas típicas das regiões onde passamos.
Poderia falar de tudo isso com delicadeza nos traços, retrato do ocorrido. Mas não, não hei de falar disto mais do que disse nas linhas que trouxeram a estas. Não posso temperado com não quero. Vou falar daqui de onde estou: um quarto de hotel em Brasília que, sozinho, mede mais que o apartamento alugado que divido com meu companheiro. Que possui duas TV’s LCD’s com canais dos mais distintos; quarto/suíte possuidor de uma sala enorme, luzes por todo o lado, requinte em cada centímetro. Com geladeira e máquina de café em cada quarto. Hotel este que vive lotado de político (quando não estão nos “quartos” ainda melhores) e pessoas ditas importantes que vem até aqui. Onde estou agora, eu só, em plena capital federal.
Não que não me encante com todo este cenário. Entrei e nem acreditava no que via: minha nossa, tudo isso só para mim? Não que não ache que todos devem ser bem tratados, que todos merecem estar aqui (as cortinas brancas agitam-se com a brisa leve que vacila entrar). Acho. Mas cá dentro de mim grita minha memória, e pergunto, em máxima sinceridade: pra quê tudo isso?
Nem vou citar os salários dos políticos – batida visão. Acabo de ouvir do jornal que o servidorismo público daqui é o que recebe melhores salários, cerca de 100% mais do que os de SP, por exemplo. Por que aqui? – deveríamos nos perguntar. Não que eu não ache que se deva receber salário justo. Acho. Mas… a que preço, vindo da onde – ou, antes, pago por quem e deixado de ser dado a quem?
Papo brega, talvez – beira a pieguice. Mas minha memória é meu testemunho, e ela não cala, a sussurrar em meus ouvidos sujos.
Fazem dois anos, quase três, que cheguei de uma viagem pelo Brasil, por povoados. Neste ato salvei a mim mesma (apesar de algumas mentes confusas insistirem em achar ato heróico o meu..). Minha Nossa Senhora da Memória Vibrante, não deixe de olhar por mim. Porque daqui deste assoalho bonito de onde estou lembro do barro, e sou mais formada de barro que de glória. Lutar por aquele faz mais sentido para mim que por este.
Levou dois anos para eu falar da experiência do Mãe, tô indo! sem chorar. Agora que consigo hei de falar dela mais e mais e mais e mais. Talvez canse alguns ouvidos, é o preço da fala. No entanto eu preciso reagir artisticamente a esta desigualdade que grita.
E assim como estas populações não são lembradas aqui, eu tampouco sou lembrada lá, no RS. Como você está estampada na divulgação do Festival como representante da cena gaúcha se nunca lhe vi? – perguntou o artista sulista para mim, agora a pouco, enquanto apontava um cartaz com meu rosto. Dei um breve sorriso. No dia que eu quiser ser assoalho requintado ou estar nele sem dar voz ao barro, é porque perdeu-se o que de mais valioso habita em mim. Pensei cá dentro: não é para você que direciono minha arte, não pode ser. E por isso estou tranqüila com o não-me-ver.
Está na hora de falar mais, isto concluo, e cá estou. Dar voz às belezas interioranas sem casas requintadas, TV’s LCD’s, máquinas de café. É hora, fez-se hora, de dar voz e valor a este “Brasil Pequeno” que vi e que não é visto nem dito nos canais deste hotel e nas salas fechadas deste distrito. É hora, fez-se hora. E deixo um vídeo do retorno de uma outra viagem que me atiçou esta mesma vontade, este olhar que aflora, esta memória que quer desabrochar.
Em 2002 assisti pela primeira vez um duo de equilíbrios acrobáticos (acrobalance). Fiquei chocado, não entendia como aqueles movimentos eram possíveis, me parecia contra as leis da física.
Buenas, os caras eram estes:
Acontece é que agora, pesquisando alguns vídeos, olha quem eu encontro, alguns anos depois, com menos cabelo, mais rugas e o mesmo número!
Os caras devem ter uns quase 50, to chocado, de novo! 😛
Boa tarde de sol em Porto Alegre, passando para deixar mais uma referência.
Assisti esse pessoal no Festival Mundial de Circo, em Belo Horizonte, uns três anos atrás. Vale a pena conferir a pesquisa deles, me agrada muito e é por aí que vou, que vamos, em nossas pesquisas do Tubo de Ensaio que, aliás, terá sua segunda edição em breve.
E, aproveitando para lembrar que hoje tem apresentação de outros franceses, esses aí, no SESC:
Fomos realmente presenteados por três trabalhos incríveis de registro fotográfico, na temporada do ‘Coisarada’, desse final de semana que passou. Queremos agradecer a esses três artistas pelo cuidado e sensibilidade: MUITO OBRIGAD@! Para quem quiser conferir as fotos no Facebook é só clicar nos nomes:
Acabou a curta temporada do espetáculo ‘COISARADA’ no Projeto Noites do Circo, no Teatro de Câmara. Acabou o terceiro dos encontros com um público que encheu de prazer o nosso apresentar.
Tenho-me cansada. De olhos baixos, sigo para o camarim. Ainda sozinha, muita gente sobre o palco abraça, elogia, mostra sorrisos. Sento-me na cadeira branca e fina como minhas pernas tortas. Findou o dia, os ensaios apertados de agendas espremidas, os refletores enfileirados sobre nossos olhos vibrantes. Findou como suspiro de recém-nascido quando, enfim, resolve adormecer, pela manhã, nos braços de pais cansados pela noite em claro. E lá de dentro agradeço ao universo inteiro por esses encontros – pelo convite do Diego há dois anos para integrar o elenco e a ideia; pelo se aproximar de pessoas queridas; pelo meu resistir em trabalhar em grupo gostando tanto da solidão, mas ainda assim seguindo; pelo aproximar de mais pessoas; por ter tempo para olhar os olhos do público, agora a pouco, cada rosto pousado sobre o teatro em risos. Agradeço em silêncio, coração ainda vibrante enquanto abro lentamente os olhos.
Pela fresta da porta posso ver os abraços que ainda duram sobre o palco. Poucos conheço de Porto Alegre que vieram assistir além dos parceiros de palco e técnica: minha mãe, meu irmão, a mãe da Fê, amigas em comum (duas ou quatro), um senhor da Feirinha Ecológica do Brique que colore minhas manhãs de sábados e… findou-se a lista. Tantos sorrisos em rostos desconhecidos. Tantos abraços de corpos incógnitos. E penso quão sortuda sou neste meu embaralhar de lembranças, de um poder conhecer e trocar por olhares e graça, só.
Certa vez descrevi algo sobre esse meu andar, sobre esses sorrisos compartilhados que povoam minha memória reunindo pessoas de diferentes cidades, Estados, países em um mesmo ponto de encontro dentro de mim. Porque palhaçar não é sorrir junto? Nem do outro, nem só de mim, mas com o outro, de nossas mazelas, do patético que se externaliza em mim e que sinto ecoar dentro de cada um. Agora, deste ‘Canto’ que estou posso ouvir em lembranças as gargalhadas unidas em um só coro, dando sentido ao meu caminhar.
Sorrimos juntos nas três noites, e quão bom foi! Jogando com o presente, ouvi ao final do terceiro dia comentários como “agora estou pronta para a semana, renovada” ou uma menina que seriamente me disse, ao final subindo no palco: “você é tão atrapalhada, né?! Erra sempre. Mas quando você erra… (depois de um pensar)… você acerta também, né?!”. Devia ter sete anos a pequena, e constatava, após me abraçar, tal beleza revelada em mente infantil e doce de inocência.
Agradeço aqui a todo o elenco – ao Diego, por insistir; ao Psico, por estar junto; à Fezinha, por permitir que minha atrapalhação ganhasse contraste com sua beleza. À Juliana no som e ao Fernando na luz, dispostos e respirando com a gente, cena após cena. Ao Expinho, companheiro de anos, a percorrer o escuro em busca da melhor imagem. Ao pessoal que se dispôs a fotografar, enchendo-nos de imagens congeladas de momentos únicos. Ao Prego e todo o pessoal do Teatro de Câmara Túlio Piva e à comissão que aprovou o ‘Coisarada’ no Projeto (mesmo sendo única proposta apresentada de circo, foi-me dito: “isso não quer dizer que serão aprovados!”). Obrigado! E, claro, um agradecimento mais do que especial a todo o público que fez-se presente a jogar com a gente! Obrigado, obrigado, obrigado!
Levanto minha bunda magra da cadeira branca e vou tirar a maquiagem. Sigamos em frente, que o espetáculo não pode parar!
22:22 e começo a escrever este post. Gosto bem de números repetidos. A temporada do Gestos e Restos iniciou no dia 20 de abril. A temporada do Coisarada finaliza no dia 20 de maio. Um mês de temporada do NECITRA nos teatros de Porto Alegre. 15 apresentações. A primeira, meu solo, ‘Gestos e Restos’, num teatro mantido pelo estado, o Bruno Kiefer. A segunda, o ‘Coisarada’, com Genifer, Fernanda, Psico e eu, no Teatro de Câmara Túlio Piva, mantido pelo município.
Hoje, treino leve no encontro de malabares e música no Largo da Epatur e amanhã sigo em ensaio para as cenas do Coisarada, além da reunião do Colegiado Setorial de Circo, na CCMQ. Gosto muito do ‘entre’, como conceito. E espaço onde acontece muita coisa. A travessia do Guimarães Rosa… Por agora, estou entre as cobertas. 🙂
Boa noite de segunda a todas e todos. Deixo vocês com algumas fotos do ‘Coisarada’ e a lembrança de que esta temporada, de 3 apresentações, 18, 19 e 20, tem entrada franca (senhas uma hora antes).
Mais uma vez, aos amigos, amigos de amigos, e inimigos de qualquer um. Todos convidados!
Depois do primeiro final de semana da temporada, sempre importante para sacudir a poeira das cenas e equipamentos, retomando assim o ritmo do trabalho, chegamos com tudo para a segunda semana. Com tudo: gana, vontade, motivação, um pouco de cansaço e mais gana, vontade e motivação. Acima de tudo, o Gestos e Restos é um trabalho que vai muito além de mim mesmo, e do NECITRA, espaço por onde ele se desenvolveu. Teve a influência de muitas outras pessoas, e é uma obra que trata de temas comuns a todos nós – inclusive ao próprio trabalho que precisa lidar com estas questões: o tempo, a repetição, os vícios, as fragilidades, etc…
Mais do que isso, só vendo. 😉
Algumas fotos então do Gerson de Oliveira, na passagem de palco do primeiro dia e da Fernanda Bertoncello Boff, na apresentação do terceiro dia. E ao final o link com os albuns…
No dia 12 de outubro de 2011 estávamos lá em Bento Gonçalves para comemorar o Dia das Crianças com os solos da Genifer – “Mundo Miúdo” e “Gringa Errante” – e o espetáculo “Coisarada” – comigo, com o Diego, a Genifer e o Psico.
Apresentamos na Praça Ismar Scussel, logo em frente à Fundação Casa das Artes e a criançada foi em peso para prestigiar… Uma delícia!!!