Entre tantas coisas para se dar conta nessa vida multicoisada, consegui finalizar a edição de três vídeos dos trabalhos do núcleo. Na ordem: Coisarada, Gestos e Restos e NECITRA 2011 – uma compilação dos trabalhos do núcleo no ano que se passou.
Estamos agora no processo de finalização das gravações e edição do videocirco “O que se passa na sua cabeça?”, mas na sequência falo mais sobre isso.
Fomos realmente presenteados por três trabalhos incríveis de registro fotográfico, na temporada do ‘Coisarada’, desse final de semana que passou. Queremos agradecer a esses três artistas pelo cuidado e sensibilidade: MUITO OBRIGAD@! Para quem quiser conferir as fotos no Facebook é só clicar nos nomes:
Acabou a curta temporada do espetáculo ‘COISARADA’ no Projeto Noites do Circo, no Teatro de Câmara. Acabou o terceiro dos encontros com um público que encheu de prazer o nosso apresentar.
Tenho-me cansada. De olhos baixos, sigo para o camarim. Ainda sozinha, muita gente sobre o palco abraça, elogia, mostra sorrisos. Sento-me na cadeira branca e fina como minhas pernas tortas. Findou o dia, os ensaios apertados de agendas espremidas, os refletores enfileirados sobre nossos olhos vibrantes. Findou como suspiro de recém-nascido quando, enfim, resolve adormecer, pela manhã, nos braços de pais cansados pela noite em claro. E lá de dentro agradeço ao universo inteiro por esses encontros – pelo convite do Diego há dois anos para integrar o elenco e a ideia; pelo se aproximar de pessoas queridas; pelo meu resistir em trabalhar em grupo gostando tanto da solidão, mas ainda assim seguindo; pelo aproximar de mais pessoas; por ter tempo para olhar os olhos do público, agora a pouco, cada rosto pousado sobre o teatro em risos. Agradeço em silêncio, coração ainda vibrante enquanto abro lentamente os olhos.
Pela fresta da porta posso ver os abraços que ainda duram sobre o palco. Poucos conheço de Porto Alegre que vieram assistir além dos parceiros de palco e técnica: minha mãe, meu irmão, a mãe da Fê, amigas em comum (duas ou quatro), um senhor da Feirinha Ecológica do Brique que colore minhas manhãs de sábados e… findou-se a lista. Tantos sorrisos em rostos desconhecidos. Tantos abraços de corpos incógnitos. E penso quão sortuda sou neste meu embaralhar de lembranças, de um poder conhecer e trocar por olhares e graça, só.
Certa vez descrevi algo sobre esse meu andar, sobre esses sorrisos compartilhados que povoam minha memória reunindo pessoas de diferentes cidades, Estados, países em um mesmo ponto de encontro dentro de mim. Porque palhaçar não é sorrir junto? Nem do outro, nem só de mim, mas com o outro, de nossas mazelas, do patético que se externaliza em mim e que sinto ecoar dentro de cada um. Agora, deste ‘Canto’ que estou posso ouvir em lembranças as gargalhadas unidas em um só coro, dando sentido ao meu caminhar.
Sorrimos juntos nas três noites, e quão bom foi! Jogando com o presente, ouvi ao final do terceiro dia comentários como “agora estou pronta para a semana, renovada” ou uma menina que seriamente me disse, ao final subindo no palco: “você é tão atrapalhada, né?! Erra sempre. Mas quando você erra… (depois de um pensar)… você acerta também, né?!”. Devia ter sete anos a pequena, e constatava, após me abraçar, tal beleza revelada em mente infantil e doce de inocência.
Agradeço aqui a todo o elenco – ao Diego, por insistir; ao Psico, por estar junto; à Fezinha, por permitir que minha atrapalhação ganhasse contraste com sua beleza. À Juliana no som e ao Fernando na luz, dispostos e respirando com a gente, cena após cena. Ao Expinho, companheiro de anos, a percorrer o escuro em busca da melhor imagem. Ao pessoal que se dispôs a fotografar, enchendo-nos de imagens congeladas de momentos únicos. Ao Prego e todo o pessoal do Teatro de Câmara Túlio Piva e à comissão que aprovou o ‘Coisarada’ no Projeto (mesmo sendo única proposta apresentada de circo, foi-me dito: “isso não quer dizer que serão aprovados!”). Obrigado! E, claro, um agradecimento mais do que especial a todo o público que fez-se presente a jogar com a gente! Obrigado, obrigado, obrigado!
Levanto minha bunda magra da cadeira branca e vou tirar a maquiagem. Sigamos em frente, que o espetáculo não pode parar!
22:22 e começo a escrever este post. Gosto bem de números repetidos. A temporada do Gestos e Restos iniciou no dia 20 de abril. A temporada do Coisarada finaliza no dia 20 de maio. Um mês de temporada do NECITRA nos teatros de Porto Alegre. 15 apresentações. A primeira, meu solo, ‘Gestos e Restos’, num teatro mantido pelo estado, o Bruno Kiefer. A segunda, o ‘Coisarada’, com Genifer, Fernanda, Psico e eu, no Teatro de Câmara Túlio Piva, mantido pelo município.
Hoje, treino leve no encontro de malabares e música no Largo da Epatur e amanhã sigo em ensaio para as cenas do Coisarada, além da reunião do Colegiado Setorial de Circo, na CCMQ. Gosto muito do ‘entre’, como conceito. E espaço onde acontece muita coisa. A travessia do Guimarães Rosa… Por agora, estou entre as cobertas. 🙂
Boa noite de segunda a todas e todos. Deixo vocês com algumas fotos do ‘Coisarada’ e a lembrança de que esta temporada, de 3 apresentações, 18, 19 e 20, tem entrada franca (senhas uma hora antes).
Amanhã é sexta-feira. Nas últimas três semanas tenho feito o mesmo percurso nas sextas, sábados e domingos, por volta das 16 horas: da minha casa para a Casa do Mario, de Cultura, no Teatro Bruno Kiefer.
Amanhã é a primeira das três últimas apresentações e, tão logo se acaba esta temporada já iniciaremos mais uma, do espetáculo Coisarada.
Então, uma retrospectiva dos registros dessa temporada e da anterior, de novembro do ano passado:
O corpo está cansado. O corpo está bem. Do corpo que é este todo, que sou eu e mais do que eu. Que quer o que quero, e às vezes não. Este corpo que tem que entrar comigo em cena, mas que cansado, teima em não deixar o camarim. Respiro e vou: é a fala da minha vó que me chama para a cena: “Antigamente, um ano, barbaridade, um ano… agora tu fecha os olhos quando tu abre os olhos e já passou um ano, uma ano passa rápido… mas porque… por esta agitação de agora… esta agitação de agora, a pessoa na pára…”
A pessoa não pára. A pessoa, a minha pessoa eu, não pode parar, como todo a pessoa. Ou pode? Paro em movimento, descanso em movimento. E a cabeça quase sempre agitada. E eu, tentando acalmar meu corpo. Mas esse corpo sou eu… Pode eu mesmo acalmar eu mesmo? Mas se eu sou eu, quem estou acalmando?
Para além do eu, meu corpo é uma convergência de energias, de olhares, que afeta e é afetado, como disse Deleuze. E é essa troca, creio eu, esta tensão que sustento em cena – para sustentar a cena- que mais me cansa. Talvez porque ainda faço muito esforço para isso…
Enfim, “foi até onde deu pra ir…”. Agora vou descansar, contente após a nona apresentação desta temporada, deste solo tão frágil quanto meu corpo.
Tem gente que quer ser forte, bonito, sério… que quer dizer, mostrar, questionar… disso tudo eu procuro os restos e, para isso, preciso me agachar, preciso me recolher, preciso me encontrar nessa vida nossa de cada dia, em cena ou não, aceitando as fragilidades de ser. Creio que aceitar ser fraco é demonstração de muita força, lapidada pelas quedas. Ainda tenho muito por cair.
Amigos, amigas, amigos de amigos e inimigos de qualquer um,
Hoje, dia 20, às 20 horas, estreia a temporada do meu solo, o Gestos e Restos. É o trabalho que se desenvolveu junto com a criação do núcleo, e anda, pouco a pouco, amadurecendo. Não vou escrever muito, pois a escrita, esta com pressa, tem um algo de gesto: um que prima pela eficiência (neste caso, para comunicar). Os restos, o que se daria por uma escrita mais atenta, calma, e talvez até descomprometida, não cabe a esta hora de corpo inteiro cansado – corpo que cria, ensaia, treina e leva a kombi para o conserto. Deixo então algo de resto para o olhar de quem olha, por cá o vídeo nosso, promocional da temporada e, quiça, por lá, no teatro. Todos convidados a compartilhar mais um pouco da história deste núcleo, que de resto em resto, pelos cantos, cria uma composição de ser – de autonomias individuais, comprometidas com construções coletivas. Já disse alguém quando alguém pisou na lua: um pequeno passo para um homem, mas um grande passo para um coletivo! Ou algo genérico.
“Não sei, só sei que foi assim”. A frase do célebre personagem Xicó, em O Auto da Compadecida, dá conta de expressar o que foi, ao meu ver, a primeira edição do Tubo de Ensaio. Me esforcei ao máximo para permitir que as coisas acontecessem, sem tentar direcioná-las. Ao mesmo tempo em que tentava estar atento para “segurar” o que parecia ser merecedor deste esforço. E assim foi. E neste ido, claro, se perde muita coisa (sempre se perde!). Mas a palavra vícios, que virou bordão em nossos ensaios, era sempre lembrada por mim, no sentido de tentar evitá-los. Mas eles estavam ali, claro, os vícios cênicos. Contudo, discriminar entre vício e referência, entre memória e dependência, é nada fácil.
Acredito que as criações para o próximo Tubo, ainda sem data, precisam ser mais intensivas. Sacudir o corpo todo (que inclui a mente, é sempre bom lembrar…), e com força, de modo que só permanece preso o que for da alma… Aliás, corpo, alma, mente, palavras a serem pensadas…
Em abril de 2011 iniciamos as pesquisas do projeto Tubo de Ensaio, que trata de criar cenas em espaços não aparelhados para as artes cênicas. É uma proposta que se aproxima do conceito de Anti-arte, embora não tenhamos usado este termo. No mais, sou cuidadoso com qualquer negação expressa, e prefiro que o processo de criação abarque um todo, sem nomes, para pode jogar com os campos artísticos e conceitos, mantendo assim uma certa suspensão, tanto por parte do artista, na criação, quanto pelo público, ao ver a obra “acabada”. Assim, mantemos uma atitude mais ou menos aberta, como com uma mente de principiante: “Há muitas possibilidades na mente do principiante, mas poucas na do perito.”
Um dos principais objetivos do projeto é criar problemas. Os problemas nos incomodam. O incomodo nos tira da comodidade. Saindo da comodidade nos colocamos em movimento, passamos a criar. É comodo para um circense trabalhar com o seu aparelho dentro de um espaço delimitado como palco/picadeiro. É comodo para um bailarino dança sobre um linóleo (piso para dança). Para um ator, provavelmente seja comodo representar num palco com a plateia bem disposta e acomodada. E como fazer num espaço outro? Sem palco, sem plateia, com outras delimitações estruturais, pois construído para outros fins. E qual é a finalidade da arte? A partir do que se cria? Para mim, se cria a partir deste incomodo. Da finalidade, deixo para quem gosta de fins, já que eu sou mais chegado aos meios.
A primeira edição do projeto aconteceu no Dhomba, e teve suas últimas apresentações em agosto. Abaixo apresento dois vídeos. O primeiro, de alguns ensaios e editado com o objetivo de divulgar a primeira intervenção. O segundo, desta primeira intervenção no espaço, que se deu sem que o público da casa soubesse. E nós, não sabíamos o que iria ocorrer. Só sei que, de amigos que estavam presentes, ouvi relatos do frequentadores da casa que diziam: “Essa gente sem noção”, “Tem um pessoal drogado ali atrás”, “Olha que legal”… Construímos as intervenções de modo que somente no final, de um período que perdurou por mais ou menos uma hora, ficasse mais claro de que se tratava de uma intervenção. No mais, os vídeos explicam melhor.
Temos desenvolvido oficinas de circo em Esteio, no Programa Integrado de Inclusão Social, em Esteio. Organizamos as oficinas por módulos, de modo que os oficinandos tenham um conhecimento mais amplo das técnicas circenses. Nos primeiros meses foram professores A Kalisy, o Psico e eu, por breve momento. Atualmente são professores a Juliana e o Juliano.