Datado I

A primeira postagem no blog será anterior a ela e vinda de outro blog, de uma postagem datada de 10 de março de 2009. Coisas que circundam é o nome de um blog que alimentei por um tempo, e agora se encontra um tanto parado. O motivo principal é o mesmo que faz colar textos antigos ao invés de inciar novos: muito tempo dedicado a produção, coordenação, e pouco aos estudos. Coisa que estou dando conta de resolver.
Mesmo assim, rever escritos de outra época é, no mínimo, curioso. Um pouco do texto me agrada, um tanto já discordo, coisas que o tempo realiza conosco. Mesmo assim, optei por deixá-lo na íntegra: se assim foi, assim será, não me darei o luxo de me “corrigir”. Mas provavelmente retome a temática em novas postagens, pois estão em movimentos nas produções em estado de espera, como um artigo que espero publicar ainda este ano. Abaixo o dito cujo.

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Circo crítico?
Valorizar o trabalho do artista enquanto processo intelectual e não enquanto produtor de objetos para a contemplação e deleite de alguns.1

Pensei, a partir desta frase, publicada em 1974, num artigo de autoria de Ronaldo Brito, crítico de arte, na questão dos artistas e da arte circense neste contexto. Neste artigo, Brito discute acerca da arte conceitual: …uma tendência ampla e internacional que começou mais ou menos com a década de 70 – representa sem dúvida um movimento importante: pela primeira vez um movimento se propôs discutir não apenas o objeto da arte em si mas a própria função da arte e do artista na sociedade.

Não posso fazer da minha análise um questionamento que abrange toda a arte circense, mas sim dentro dos espaços de onde surge a minha experiência e das pesquisas que tenho feito a cerca desta arte, onde me incluo. Acontece que daí já surge um problema, que se soma aos outros, e me fazem questionar a arte circense enquanto processo intelectual: pouco se encontra de bibliografia e não há muita discussão neste aspecto na internet (faço esta afirmação com receio, pois não tenho pesquisado tanto quanto gostaria, mas é fato que se tratando de artes cênicas, a dança e o teatro tem publicações bem mais fáceis de se encontrar).

Acredito que está condição atual se torna mais clara à medida que se estuda a história do circo, das famílias circenses, de como se formou este grande espetáculo. E não há aqui em minha problematização uma questão de hierarquia, não se trata de ter que se ser intelectual para ter mais valor. Tem grandes méritos o circo tradicional, e um deles é o alcance que teve, e ainda tem, em termos de democratização e contato com o público. Coisa que não se pode afirmar da arte conceitual.

Contudo, desejo restringir está discussão no seguinte emolduramento: o que faz desta arte os que se dizem do Circo Contemporâneo? E não me aventuro agora na questão de conceituar e discutir o que se trata esse tal circo, mas me basta aqui sugerir que são artistas que surgem na nossa época e que conheceram o circo das mais diversas formas, que não a partir de sua família, sob a lona.

Circundando em torno da questão do circo contemporâneo, questiono as possibilidades deste fazer artístico circense que não se faça apenas no fazer, mas que se ponha a pensar. Pois, a medida que somos de outro contexto histórico e social, podemos (prendi meu ímpeto de escrever “devemos”) nos apropriar deste e pensar a arte circense não apenas como entretenimento, mas também como uma arte crítica.

E para delinear melhor a questão, coloco aqui a minha noção de arte crítica, me dita por Barthes: a arte crítica é aquela que abre uma crise: que rasga, que faz rachaduras na cobertura, fissura a crosta das linguagens, desliga e dilui o ligamento da logosfera; é uma arte épica: que torna descontínuos os tecidos de palavras, afasta a representação sem anulá-la.2

Talvez a principal dificuldade de alcançar esta proposta se dê no fato dos circenses estarem um tanto presos à virtuosidade. Se gasta toda a energia, ou boa parte dela, na busca do mais difícil, do mais impressionante: um mortal a mais, uma bola a mais, uma pirueta a mais. Quase sempre o mais. Quando as vezes pode ser interessante o menos (relendo o texto lembrei dos palhaços, que certamente constituem uma questão a parte, não se incluindo aqui). Não que isso não ponha o outro (espectador, ou mesmo um colega) em crise, mas ela vai acontecer se o outro perceber o quanto seu corpo poderia fazer, se outro corpo faz, mas não o faz porque não treinou, não seguiu este caminho, ou tem outra profissão, esta fora do peso, etc. Provavelmente uma pequena crise.

Acontece que temos nas mãos, ou mais precisamente em nossos corpos, muitas críticas em potencial. Pois, a medida em que vivemos numa maquinaria social onde apreendemos e somos apreendidos, tomamos formas que nos fazem ser quem somos. Temos, no entanto uma potência que não circula, ou que as poucos se diminui, num corpo que se desfaz na lógica do consumo, do utilitarismo, numa economia dos corpos: num menor gesto, uma maior produção (Foucault, se não me falha a memória). Sendo que assim, quem mais sofre é o corpo, que é este sujeito, ou está individualidade, eu e você. E quem melhor que os circenses para levar o corpo para outras possibilidades? Mas isso é texto para outros textos.

Penso que o mais justo é se pensar em um circo contemporâneo, com iniciais minúsculas, porque ainda vejo ele, salvo algumas exceções, como um circo que é do nosso tempo, mas não difere muito do circo tradicional no seu fazer a ponto de necessitar de um novo nome. Pois mesmo que se apresente em outros espaços, com outras propostas no figurinos e mesmo no dito circo-teatro, o que prevalece são as mostras de números nos passos da virtuosidade: enquanto produtor de objetos para a contemplação e deleite de alguns.

E se a arte circense se apropriar desta possibilidade crítica e conceitual, não como parte casual do processo de criação, mas sim com pré-texto, como inicio do processo? Não que tenha que se perder o que se tem, ou não se possa trabalhar com uma proposta, diria (com receio novamente), mais tradicional. Não estou propondo a troca de uma por outra, mas a criação de outros territórios: a multiplicidade de territórios. Fugir da simples repetição.
Porém, essa outra vertente pode ser um pouco mais trabalhosa, e é necessário estar um pouco mais aberto. Assim como é necessário criar um espaço de pesquisa, de estudo, com seus devidos tempos. Sob o risco de se fazer o tradicional, com um nome novo.

1 Ronaldo Brito. Experiência Crítica. Editora Cosacnaify.
2 Roland Barthes. Escritos sobre teatro. Editora Martins Fontes:São Paulo, 2007.

Era uma vez: Ana…

As paixões quando chegam, nos levam! E quando nos deixam, se nos deixam, deixam as marcas.

Ana foi assim.

Esta é a primeira cena criada com teatro de objetos. Outras virão. Um vasto campo se abre.

Todos os personagens citados nesta história são fictícios. Ou não.

Improviso à dois

Eu, que pouco sei de acordeon, e muito tenho a estudar. A Fê, que muito sabe de dança, e que muito indecisa estava. Eu, que queria experimentar a relação do som com o movimento. O movimento do “músico” que dispara o som, e o movimento do corpo que dança. O som do intrumento que toca e da bailarina que se movimenta. A Fê, ainda indecisa, abraçou minha idéia. Eu, ainda indeciso, abracei o acordeon. Ela se abriu para o espaço. O público presente. Todos dispostos ao improviso.

E das vontades e indecisões destes corpos humanos se fez esta cena.

A dança de quem é boneca só

Em meados de julho, Genifer propos a criação de uma cena com uma boneca. Este é o resultado de um processo, que juntou a já referida, mais Diego Esteves, Fernanda Stein, Mariana Brandão, Paulo Guimarães e Tiago Rinaldi, ao som de La edad del cielo.
Calma,
todo está en calma,
deja que el beso dure,
deja que el tiempo cure,
deja que el alma
tenga la misma edad
que la edad del cielo.

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Encuentros: sapateado e malabarismo

Sapateado de Dani e Juliana, malabarismo de Diego.

Fica a vontade de ir mais fundo na proposta. O jogo entre o ritmo do sapateado e os lançamentos do malabarismo, seguido do silêncio junto aos equilíbrios em contato, é convidativo para outras explorações. A proposta porém era mais intensiva. Fica o estímulo para seguir os estudos de ritmos com o malabarismo e daí por diante. Coisas já postas em prática no espetáculo Gestos e Restos e que seguem para futuras experimentações.

Encuentros: solo

As idéias foram surgindo na reunião que antecedeu ao encuentro. Sugeri inserir algo de dança contemporânea, fragmentos de um solo ainda em criação. Em contrapartida, os anfitriões me ofertaram uma de suas músicas.

A inserção de movimentos oriundos de um espaço de criação, em outro de realização, diferentes entre si, provoca diferenciação em sua materia. Quero dizer, não havia a certeza da disposição de espaço, nem do efeito deste movimentos junto à música proposta. Menos mal que um circense já está acostumado com variações espaciais de todo tipo. E, especialmente neste caso, elas eram muito bem vindas, pois estavam alinhadas com a proposta.

Encuentros: minha cabeça

Fomos convidados, assim como a Boraimbolá, para participar do projeto Encuntros da Del Puerto Cia de Flamenco. Uma das cenas que surgiram deste encontro foi esta: uma performance de malabarismo de contato, ao som da música Minha cabeça da Boraimbolá, com a participação dos músicos da casa.

Um jogo aberto, um vai-e-vem entre música, músicos, o malabarista e o público. Um potente momento, uma boa noite. Sensações que só um projeto que se permite esta “cena aberta” é capaz de proporcionar.