Sobre projetos e processos

Em breve realizaremos o quarto processo seletivo que, nos anos anteriores, chamamos de audição. Este texto é para quem está interessado em participar deste processo. No segundo ano foi solicitado ao final do texto sobre a audição, aqui no blog, que o candidato, ou candidata, escrevesse no e-mail de inscrição: eu li o texto até o final. Brincadeiras a parte, muita gente não lê todas as informações, como muitas vezes não se atenta para as especificidades do NECITRA, pelo menos no que o diferencia de um modelo hegemônico de gestão do trabalho, digamos assim. Sem se atentar para esses “detalhes”, muitos candidatos se apresentavam na audição com expectativas sem par na nossa realidade como um núcleo de artistas. Por esse motivo modificamos o nome de audição para processo seletivo e solicitamos o envio de um projeto, além de apresentar o nosso regimento interno que, por si só, já é bem explicativo da nossa atual realidade. De qualquer forma, temos recebido retornos de pessoas que dizem que não vão se escrever no processo por não ter um projeto. Sobre isso, então, escrevo.

(E é, portanto, uma perspectiva com um tom individual, mas compartilhada pelo coletivo no seu cerne, qual seja, da importância dos projetos.)

Se alguém me disser que não tem um projeto, eu diria, mas como você vive? Como você é um artista sem projetar sua obra? Sem projetar seus estudos? Sem projetar seu treinamento? Sem projetar sua vida…? Veja que não estou falando de um projeto para concorrer ao Fumproarte, FAC, Funarte… É descrever o que você pretende e como pretende desenvolver, neste caso, nos espaços do NECITRA. Claro que, se estiver no momento da criação de um espetáculo, será um projeto mais completo. Mas pode ser um projeto de estudo (que é muito bem vindo), você pode pretender aprender, mas e como irá fazer isso? Método: dialogar com os colegas, participar das aulas dos colegas (que são gratuitas para participantes do núcleo), ler, pesquisar na internet, realizar laboratórios de experimentação… o que for.

O NECITRA é um núcleo que preza pela autonomia do indivíduo, que se propõe a criar, coletivamente, um ambiente estruturado para que todos os artistas possam se potencializar, e com isso potencializar o todo, e desenvolver seu trabalho. Esse ponto é muito caro, porém, não queremos viver uma ditadura da “autonomia criativa”. Você não precisa necessariamente propor uma nova criação. Seu projeto pode ser participar dos projetos dos outros, pode ser ser dirigido, coreografado, por exemplo, o que for. Não há modelos, há espaço para serem ocupados. Pense nisso, todos precisamos de espaço para ser.

Então:

Quem você é, hoje?

Hoje, o que quer, o que deseja, como se vê como artista, no futuro, e o que precisa para isso. Não sabe? Talvez um projeto de estudo possa te dar essa base… Já sabe, mas ainda falta bala na agulha? Ainda um projeto de estudo e treinamento… Sabe, e tem vocabulário técnico? quem sabe um projeto de experimentação, laboratórios criativos… Já sabe, tem domínio técnico, e já experimentou o suficiente? Seria então a criação/finalização da obra: coreografia, número circense, monólogo, vídeo, texto, foto, ilustração… o que você faz? E se você for produtor, seu projeto pode ser amparar a produção executiva dos espetáculos em criação… Se for iluminador, trabalhar junto aos espetáculos para salas de teatro, ou demais espaços que precisam de luz cênica… Se for compositor, ótimo, muitos trabalhos precisam de trilha… Se for diretor, é bem provável que algum projeto possa precisar de um, assim como dramaturgo, coreógrafo… quem sabe até psicólogo, administrador, contador… Pense o NECITRA como uma comunidade, é um espaço de realização, de tornar real. Traga suas coisas, misture com as coisas daqui (ideias, gentes, coisas) e criei coisas, e crie a si mesmo. É uma mistureba de coisaradas. 😉

É desafiador, viver junto, viver consigo, lidar com a angústia de poder decidir… mas acredito que é com os desafios que crescemos, pense então o NECITRA como um espaço de crescimento. Eu penso assim, para mim tem funcionado.

Tenho um teoria de vida que sintetizo em uma palavra: FAZ.

Todos tem dúvida, mas se você tem um pontinho de certeza de que deve fazer, se sente, intui, FAZ. Evite as expectativas, certo e errado é a mesma coisa, embora sejam coisas diferentes. Não importa tanto. Nada importa tanto quanto o FAZER. O equilíbrio se dá em movimento. O aprendizado também. Só saberás quando estiver mais à frente na caminhada, e puder ligar os pontos olhando para trás, e com essa informação melhorar os futuros projetos e, de novo, fazer. É a vida. Quantas pessoas estão por aí paradas ou andando em círculos…? Sempre penso nisso. Bom,

Espero que tenha contribuído. Espero que você possa ter tido a paciência e o engajamento necessário para ler até o final deste post. Talvez o FAZER comece por buscar as informações, em ser curioso. Tem também a ver com coragem, que é, agir com o coração. Certamente tem um início em acreditar, em dar crédito à vontade – e a crença em si vai aumentando com o resultado de se estar fazendo, e a vontade deve crescer, e com isso se FAZ mais. É quase infinito. 🙂

Bom, se quiser FAZER (seja o que for), seja bem-vindo, seja bem-vinda. Ah, o projeto é o esboço desse fazer, mas já, em si, fazer.

Até.

E lembrando, sobre o processo, onde, ao final, existem mais textos indicativos sobre o NECITRA, como o regimento… : https://necitra.com/2016/02/05/processo-seletivo-necitra-2016/

Indico também a leitura:

Mais sobre projetos: http://diegoesteves.in/escritos/2013/05/23/desdobramentos-1-comecando-a-desdobrar/

Sobre atitude, algo assim: http://diegoesteves.in/escritos/2013/05/26/consequente-ou-consequencia/