E ainda falta um.
O corpo está cansado. O corpo está bem. Do corpo que é este todo, que sou eu e mais do que eu. Que quer o que quero, e às vezes não. Este corpo que tem que entrar comigo em cena, mas que cansado, teima em não deixar o camarim. Respiro e vou: é a fala da minha vó que me chama para a cena: “Antigamente, um ano, barbaridade, um ano… agora tu fecha os olhos quando tu abre os olhos e já passou um ano, uma ano passa rápido… mas porque… por esta agitação de agora… esta agitação de agora, a pessoa na pára…”
A pessoa não pára. A pessoa, a minha pessoa eu, não pode parar, como todo a pessoa. Ou pode? Paro em movimento, descanso em movimento. E a cabeça quase sempre agitada. E eu, tentando acalmar meu corpo. Mas esse corpo sou eu… Pode eu mesmo acalmar eu mesmo? Mas se eu sou eu, quem estou acalmando?
Para além do eu, meu corpo é uma convergência de energias, de olhares, que afeta e é afetado, como disse Deleuze. E é essa troca, creio eu, esta tensão que sustento em cena – para sustentar a cena- que mais me cansa. Talvez porque ainda faço muito esforço para isso…
Enfim, “foi até onde deu pra ir…”. Agora vou descansar, contente após a nona apresentação desta temporada, deste solo tão frágil quanto meu corpo.
Tem gente que quer ser forte, bonito, sério… que quer dizer, mostrar, questionar… disso tudo eu procuro os restos e, para isso, preciso me agachar, preciso me recolher, preciso me encontrar nessa vida nossa de cada dia, em cena ou não, aceitando as fragilidades de ser. Creio que aceitar ser fraco é demonstração de muita força, lapidada pelas quedas. Ainda tenho muito por cair.
Boa noite!