Gestos e Restos no Teatro de Câmara Túlio Piva

Saiu ontem o resultado do edital de ocupação dos teatros para o 2º semestre de 2012. Desta vez quem apresenta no Túlio Piva é o Gestos e Restos, meu solo. No primeiro semestre, também pelo edital Noite do Circo, estivemos por lá com o Coisarada, teatro lotado nos três dias das apresentações. E assim como no caso do Coisarada, o Gestos e Restos será com entrada franca.

Então, aguardem, pois antes disso ainda temos o Tubo de Ensaio e o Coisarada, novamente. O primeiro em um apartamento e o segundo na rua e com a Dona Sofia. 🙂

Gestos e Restos, para quem não conhece, é o meu solo. Com criação iniciada em 2009, com financiamento do Prêmio Carequinha de Estímulo ao Circo, ele teve sua estreia em 2010, passando por Estrela, Santa Cruz do Sul e Bento Gonçalves. Em julho estrou em Porto Alegre também no teatro do SESC. Ano passado estivemos em Capão da Canoa e depois em temporada na sala Álvaro Moreyra. Este ano uma temporada no Teatro Bruno Kiefer, na Casa de Cultura Mario Quintana e agora, no segundo semestre, o Teatro de Câmara. É isso, NECITRA rodando por aí.

Assista trechos do trabalho e se agenda aí! :o)

Juggler Patrik Elmnert

20 horas da quinta-feira, pausa para o lanche.

Fiz da minha sala uma sala de ensaio, agora oficialmente, após reestruturar todo o espaço. Do lado de cá, junto ao quarto, fica o escritório, com documentos, livros e este computador. Aqui, após vir da cozinha, acabei de fazer um lanche enquanto assistia ao vídeo deste cara: Patrik Elmert. Ele esteve na última Convenção Brasileira de Circo, a qual não estive presente. Já havia assistido alguns vídeos onde ele atua com seu parceiro, também totalmente fora do comum, Wes Peden.

Neste vídeo em específico ele apresenta um ato, uma cena, com clavas e aros. São oito minutos de truque com desenvoltura, ritmo, limpeza de movimentos e NENHUM erro. Além disso, tem uma bem pensada estrutura que suporta os aparelhos malabarísticos e que, acionadas por movimentos mecanicamente simples, inserem os aparelhos no jogo, ao encontro do malabarista.

Limpo, preciso, consistente. Mostra muito, sem mostrar demais. Um contra ponto, para tornar mais claro o que estou apontando, é uma apresentação do Wes, que em algum momento passa a ser cansativa, não se sustenta tão bem, ao meu ver, como o trabalho do Patrik. Provavelmente a própria estrutura simples que sustenta os aparelhos e que introduz o início de cada jogo, bem como as pausas e movimentos de equilíbrios, além da luz e palco, como poderão perceber, fez a diferença entre um trabalho e outro já que, tecnicamente, os dois são referência para qualquer malabarista.

Indo um pouco mais para a qualidade dos movimentos, para mim há uma grande diferença, ao menos nesses dos vídeos: Patrik parece receber e aceitar os objetos, jogando com eles de um forma mais harmoniosa, mudando a sua trajetória, mas no momento certo, como que sentindo o peso, o tempo de cada movimento: como que também sendo mudado por eles. Já Wes me dá a impressão de ser o sujeito sobre o objeto, aquele que domina, que controla, que bruscamente muda a estrutura, o tempo, o ritmo, projetando na cena, nos movimentos, talvez seu ritmo interno, seu querer, controlando o jogo. São duas formas de jogo, duas formas de controle, uma me parece ser mais precisa, no tom certo de cada momento, a outra me parece exagerada, forçada, quase tensa, ou tensionada.

Vídeo do espetáculo Coisarada

Olá, olá,

Entre tantas coisas para se dar conta nessa vida multicoisada, consegui finalizar a edição de três vídeos dos trabalhos do núcleo. Na ordem: Coisarada, Gestos e Restos e NECITRA 2011 – uma compilação dos trabalhos do núcleo no ano que se passou.

Estamos agora no processo de finalização das gravações e edição do videocirco “O que se passa na sua cabeça?”, mas na sequência falo mais sobre isso.

Sem mais delongas, que comece o espetáculo! 🙂

FESTIVAL DO TEATRO BRASILEIRO – cena gaúcha em GO e DF

Imagem

Poderia falar do luxo. Da produção impecável, parceira e vibrante. Poderia falar dos encontros, dos brilhos nos olhos em praças públicas, interior de escolas de Goiás com suas crianças faceiras como em todo lugar.

Eu poderia falar do convite. De pessoas doces que assistiram o meu DVD caseiro junto a outras centenas de cenas gaúchas e que apostaram no meu trabalho, sem nem me conhecer ao certo. Falar dos vôos, idas e vindas, ou das comidas deliciosas. Ou do motorista da van com suas histórias (por vezes tristes, mas nem por isso com menos sorrisos). Ou do brinde pela excelência do Festival (e o foi!) inundando de água salgada os olhos do principal responsável pelo evento, que, contente, entregava rosas típicas das regiões onde passamos.

Poderia falar de tudo isso com delicadeza nos traços, retrato do ocorrido. Mas não, não hei de falar disto mais do que disse nas linhas que trouxeram a estas. Não posso temperado com não quero. Vou falar daqui de onde estou: um quarto de hotel em Brasília que, sozinho, mede mais que o apartamento alugado que divido com meu companheiro. Que possui duas TV’s LCD’s com canais dos mais distintos; quarto/suíte possuidor de uma sala enorme, luzes por todo o lado, requinte em cada centímetro. Com geladeira e máquina de café em cada quarto. Hotel este que vive lotado de político (quando não estão nos “quartos” ainda melhores) e pessoas ditas importantes que vem até aqui.  Onde estou agora, eu só, em plena capital federal.

Não que não me encante com todo este cenário. Entrei e nem acreditava no que via: minha nossa, tudo isso só para mim? Não que não ache que todos devem ser bem tratados, que todos merecem estar aqui (as cortinas brancas agitam-se com a brisa leve que vacila entrar). Acho. Mas cá dentro de mim grita minha memória, e pergunto, em máxima sinceridade: pra quê tudo isso?

Nem vou citar os salários dos políticos – batida visão. Acabo de ouvir do jornal que o servidorismo público daqui é o que recebe melhores salários, cerca de 100% mais do que os de SP, por exemplo. Por que aqui? – deveríamos nos perguntar.  Não que eu não ache que se deva receber salário justo. Acho. Mas… a que preço, vindo da onde – ou, antes, pago por quem e deixado de ser dado a quem?

Papo brega, talvez – beira a pieguice. Mas minha memória é meu testemunho, e ela não cala, a sussurrar em meus ouvidos sujos.

Fazem dois anos, quase três, que cheguei de uma viagem pelo Brasil, por povoados. Neste ato salvei a mim mesma (apesar de algumas mentes confusas insistirem em achar ato heróico o meu..). Minha Nossa Senhora da Memória Vibrante, não deixe de olhar por mim. Porque daqui deste assoalho bonito de onde estou lembro do barro, e sou mais formada de barro que de glória. Lutar por aquele faz mais sentido para mim que por este.

Levou dois anos para eu falar da experiência do Mãe, tô indo! sem chorar. Agora que consigo hei de falar dela mais e mais e mais e mais. Talvez canse alguns ouvidos, é o preço da fala. No entanto eu preciso reagir artisticamente a esta desigualdade que grita.

E assim como estas populações não são lembradas aqui, eu tampouco sou lembrada lá, no RS. Como você está estampada na divulgação do Festival como representante da cena gaúcha se nunca lhe vi? – perguntou o artista sulista para mim, agora a pouco, enquanto apontava um cartaz com meu rosto. Dei um breve sorriso. No dia que eu quiser ser assoalho requintado ou estar nele sem dar voz ao barro, é porque perdeu-se o que de mais valioso habita em mim. Pensei cá dentro: não é para você que direciono minha arte, não pode ser. E por isso estou tranqüila com o não-me-ver.

Está na hora de falar mais, isto concluo, e cá estou. Dar voz às belezas interioranas sem casas requintadas, TV’s LCD’s, máquinas de café. É hora, fez-se hora, de dar voz e valor a este “Brasil Pequeno” que vi e que não é visto nem dito nos canais deste hotel e nas salas fechadas deste distrito. É hora, fez-se hora. E deixo um vídeo do retorno de uma outra viagem que me atiçou esta mesma vontade, este olhar que aflora, esta memória que quer desabrochar.

É

hora.

Fez-se,

ora!